SANTIAGO, Chile – Martina Trevisan está de volta às quadras após um ano afastada por lesão, orgulhosa pelo sucesso que suas companheiras italianas da Billie Jean King Cup alcançaram na sua ausência e prestando muita atenção ao que Aryna Sabalenka fará na controversa exibição de fim de ano contra Nick Kyrgios, em Dubai.
“É claro que vou torcer pela Aryna”, disse ela à CLAY em uma entrevista também publicada pela RG Media.
Trevisan, ex-número 18 do mundo, passou por uma cirurgia no pé em março, se recuperou bem e agora busca retomar o nível que a ajudou a levar a Itália ao título da Billie Jean King Cup em 2024.
A entrevista foi realizada em Santiago, no Chile, após a participação da italiana no WTA 125 em Colina, em que perdeu na primeira rodada, mas reencontrou as boas sensações. “Ainda amo o tênis e esta vida”, disse a tenista de 32 anos.
Trevisan também elogiou o desempenho de sua amiga e companheira de equipe Jasmine Paolini, destacando acima de tudo a atitude da número 8 do mundo, que liderou a Itália na defesa do título na antiga Fed Cup: “Ela é muito alegre e não leva as coisas muito a sério. Isso é importante na vida do tênis, porque frequentemente você perde.”
Entrevista com Martina Trevisan
– Foi um ano difícil para você, com a grave lesão, mas vejo que está feliz por voltar às quadras. Como você está se sentindo ?
— Sim. Tive um ano muito difícil a partir de novembro do ano passado. Fui operada em março, depois de passar por muitos tratamentos que não funcionaram. Tem sido um desafio, mas o lado positivo é que a cada dia me sinto um pouco melhor e meu corpo está reagindo da maneira certa. Ainda preciso trabalhar e treinar para recuperar meu corpo, mas a maior mudança é que não sinto mais aquela dor que dificultava acordar de manhã e apenas caminhar. Voltar depois de nove meses sem jogar não é fácil, então tenho que ser paciente. Mas estou muito feliz por estar de volta às quadras e competir. Ainda amo esse esporte e essa vida. Isso é o mais importante. Só preciso ser paciente e trabalhar duro diariamente.

– Durante esse período longe das quadras, como você se sentiu mentalmente?
— Honestamente, achei que seria mais fácil administrar. Depois da cirurgia e das primeiras partidas, algumas vezes foi bem difícil. Estou trabalhando muito em mim mesmo, principalmente fora de quadra, porque acredito que, se você se sente melhor fora dela, vai se sentir melhor também em quadra. Estou tentando me aperfeiçoar e, sinceramente, posso dizer que tenho aproveitado mais o tempo fora de quadra agora do que antes da cirurgia.
– Você foi uma das campeãs da Billie Jean King Cup no ano passado, representando a Itália. Nessa temporada, você estava retornando e não foi convocada. Qual foi a sensação de ficar de fora do time durante a defesa do título ?
— Estou muito feliz pelas meninas. Elas fizeram um trabalho incrível — defender o título nunca é fácil. Eu as acompanhei durante toda a semana em Shenzhen (China). É claro que eu queria fazer parte . Mesmo não estando lá fisicamente, me sentia parte da equipe. Como profissional, eu adoraria estar lá, mas este foi um ano difícil para mim e é preciso aceitar que às vezes não posso estar com o time. Estou muito feliz pelo meu país, pela Tatiana (Garbin, a capitã), Elisabetta (Cocciaretto), Lucia (Bronzetti) e Jasmine (Paolini).
– Jasmine é uma peça muito importante para a equipe, e sua carreira realmente deslanchou com uma idade maior do que a média das tenistas de elite. Qual é a sua análise sobre a trajetória da Jasmine?
— Sempre achei a Jasmine uma ótima jogadora, com um forehand e um backhand explosivos. Mesmo quando ela estava em 80º, 95º, 115º, 150º lugar no ranking, eu sempre achei ela incrível e sabia que, em algum momento, ela iria mostrar o quanto é boa. Agora ela acredita mais em si mesma. Ela é muito teimosa, no bom sentido. Lembro que, há três ou quatro anos, ela jogou um torneio da ITF e perdeu na primeira rodada para uma jogadora muito jovem, talvez sem ranking. Mandei uma mensagem para ela para saber como estava. Ela não estava feliz pela derrota, mas continuava positiva. Ela é uma pessoa muito alegre e não leva as coisas muito a sério. Isso é importante na vida do tênis, porque você acaba perdendo com certa frequência. Se você se concentra demais na derrota, é difícil responder bem. A Jasmine lida muito bem com isso em comparação com outras jogadoras: ela costuma encarar as coisas do jeito certo.
– Quando você olha para as top 10 atuais, você vê espaço para mais jogadoras se destacarem?
— Exceto Aryna ou, no momento, Iga. Eu acrescentaria Rybakina… Elas têm algo a mais: altura, saque, físico. Mas, no geral, o nível das demais jogadoras da WTA é mais alto do que há quatro ou cinco anos. Não tem jogo fácil. Aryna e Iga são diferentes e mostram isso nos torneios, mas o nível no geral é muito alto. Todo jogo é difícil. Acho que a Jasmine falou algo parecido: o nível está mais alto agora do que há dez anos. Até as jogadoras que estão na 120ª posição estão jogando bem. Você sempre tem que mostrar seu melhor tênis para ganhar.
– Você vê a Jasmine com chances de ser campeã de um Grand Slam?
— Claro. Ela chegou bem perto no ano passado. Eu torço para que ela ganhe um Slam, mas não é fácil. Em quadras duras, quando alguém saca bem, é difícil quebrar. Espero que ela chegue tão perto quanto no ano passado, mas é impossível simplesmente dizer: “você vai ganhar um Slam”.
– Qual é a sua explicação para esta fase de sucesso do tênis italiano? É uma era de ouro tanto no masculino quanto no feminino.
— É fantástico. É o resultado de um trabalho incrível realizado nos últimos anos. A Federação Italiana contribuiu muito. É o reflexo de um trabalho muito importante que foi feito no passado.

– Qual é a sua opinião quando os melhores jogadores não disputam a Copa Davis? É uma falha, apesar de a Itália ter conseguido conquistar o título sem Sinner e Musetti?
— Não acho que seja errado. O ano tem muitos torneios e quem não vive isso não consegue entender tudo o que a gente enfrenta. Somos sortudos por ter essa vida, mas ela não é tão perfeita quanto parece. Temos que fazer muitos sacrifícios e lidar com vários desafios mentais. No final da temporada, você precisa escutar seu corpo e sua mente e decidir o que é melhor pra você. Para mim, jogar pela Itália é sempre um privilégio e um sonho, mas cada jogador é diferente e tudo depende do momento. Por exemplo, Lorenzo Musetti e sua namorada Veronica estão esperando um bebê. Esse é um momento incrível na vida pessoal; acontece uma ou duas vezes na vida, e é importante estar presente.
– Jannik Sinner ou Carlos Alcaraz… Quem será melhor ? Por quê?
— Eles são muito diferentes. Jannik tem uma técnica e uma mentalidade incríveis. Carlos tem mais variedade em seu jogo, mais fantasia quando joga. Para dizer quem vai mais longe, temos que acompanhar como seus corpos vão se comportar ao longo dos anos, como eles lidarão com a pressão e as adversidades, porque eles jogam muito e costumam chegar longe nos torneios. É uma pergunta difícil — não sei qual é a resposta. Gosto de assistir aos dois. São personalidades muito diferentes dentro de quadra, e isso é bom para o tênis.
– Quem vai ganhar na nova Batalha dos Sexos? Aryna Sabalenka ou Nick Kyrgios?
— Bem, Aryna vai jogar contra Nick. Ele disse: “você precisa ter medo de mim”, e Aryna respondeu mostrando muita confiança. Vou torcer pela Aryna, é claro.
– Você acha que esse tipo de evento é bom para o tênis feminino?
— Acho que quando há sorrisos e bom humor, é sempre positivo, não só para o esporte, mas para o público. Vai ser divertido.
– Você gostaria de jogar em uma partida de exibição contra um tenista masculino algum dia?
— Claro. Por que não?!





