SÃO PAULO – Filipinas era um país com 7.641 ilhas e nenhuma jogadora de tênis.
Era.
Não tinha nenhuma jogadora até Alexandra Eala aparecer, dando início a uma revolução esportiva na nação asiática, fascinada por uma jogadora que está mudando a história do tênis naquele país.
“Há 115 milhões de filipinos, e eu sou a primeira tenista da história; é uma loucura”, diz Eala, número 61 do mundo, com 20 anos, durante uma entrevista à CLAY no WTA 250 em São Paulo, o maior torneio feminino da América do Sul.
Semifinalista em Miami, onde derrotou Ostapenko, Keys, Badosa e Swiatek, neste ano no US Open, Eala revolucionou o esporte em seu país ao se tornar a primeira filipina na história a vencer uma partida em um torneio do Grand Slam.
Elegante, sorridente e eloquente ao falar, a filipina chegou a São Paulo após vencer o WTA 125 em Guadalajara, embora o que possa parecer um título não seja: para a WTA, são considerados apenas os campeonatos a partir da categoria 250.
– Você acha que está no melhor momento da sua carreira?
– Definitivamente acho que este ano foi o melhor da minha carreira até agora, mas é difícil dizer se este é o melhor momento da minha carreira porque, como você sabe, o tênis tem muitos altos e baixos. Então, definitivamente tive dificuldades e obstáculos a superar na semana passada. Então, acho que estou feliz com a forma como estou lidando com tudo isso e como tenho conseguido resolver certas situações e problemas.
– Voltando a como você começou a jogar tênis, seu avô foi uma pessoa fundamental nessa conquista.
– Sim, ele foi uma parte muito importante do meu tênis e, obviamente, da minha vida, da minha infância. Acho que ele, junto com meus pais, contribuiu muito para o meu comportamento em quadra, minha mentalidade e minha força mental. Ele era o pai da minha mãe.
– Por que ele gostava tanto de tênis e por que achou que voce poderia ser jogadora?
– Ele era mais um jogador de clube, do que exatamente um treinador. Ele só ia ao clube e jogava um pouco, e depois acho que treinou outras pessoas da minha família, incluindo alguns primos, meu irmão, e também chegou a treinar minha mãe na natação. Mas ele não era exatamente um treinador. Somente “treinava” os membros da família. Começou como um jeito de me conectar com ele, entrar no esporte e ter uma rotina, e ele adorava ler livros sobre tênis. Ele assistia a muitas partidas, e acho que foi aí que ele adquiriu seu conhecimento.
Ele chegou a ver voce jogar profissionalmente?
– Acho que não… Talvez um… Não, acho que não. É, ele não chegou a ver.
– Mas quando voce vence, você se lembra dele.
– Sim. Claro. Sempre que faço algo importante, penso nele, obviamente. Ele adoraria ter visto o quanto eu evoluí, porque, afinal, ele trabalhou duro e se sacrificou muito por mim.
– Qual era o nome dele?
– Bob. Nós o chamávamos de Lolo Bob.
– Você fala espanhol?
– Um pouco. Eu tento. Depende de com quem você fala. Alguns dizem que sim, outros dizem que não.
– Como foi crescer como jogadora de tênis nas Filipinas sem realmente ter uma referência, um jogador, porque basicamente não há quase nenhum jogador nas Filipinas?
– Talvez a gente não tenha tido necessariamente alguém em nível profissional que se destacasse internacionalmente, mas, pessoalmente, eu tinha muitas pessoas para admirar na minha família, não apenas no tênis, mas como modelos na vida em geral.
– Mas um modelo no tênis é necessário, não é?
– Sim, claro que a representatividade é muito importante porque inspira. Mas não acho que você deva se limitar somente a isso como inspiração. No meu caso, me inspirei, por exemplo, na Sharapova, porque ela era muito agressiva e mentalmente forte. Mas, por outro lado, também admiro a Li Na porque ela é asiática. Então, essa é diferença. Você pode se inspirar em quem quiser.
– Estar em 60º lugar no ranking da WTA não significa muita coisa, digamos, na França, mas no seu país você é uma estrela. Como é essa sensação? Como funciona?
– Eu me sinto muito abençoada, e às vezes é difícil aceitar porque, pensando bem, existem 115 milhões de filipinos e eu sou a primeira tenista da história. Então às vezes é uma loucura pensar. Mas estou muito feliz por poder retribuir ao meu país de qualquer maneira possível.
O que era mais importante para você? Chegar às semifinais em Miami ou chegar à segunda rodada do US Open?
– É uma comparação muito difícil… Acho que as duas situações foram bastante históricas. Eu diria que Miami, porque sinto que foi… É difícil escolher. Ambas são muito, muito especiais para mim. Eu acho que Miami porque que foi uma jornada mais longa. Mas, obviamente, minha partida contra [a dinamarquesa Clara] Tauson foi muito, muito emocionante.
– Há um debate sobre se as mulheres podem jogar melhor de cinco sets em uma final de Grand Slam . Você viu o que aconteceu em Wimbledon. O que você faria?
– Jogamos melhor de três sets por um motivo, e acho que os esportes femininos, e o tênis feminino em geral, são muito competitivos. Então, essa é uma grande mudança, e tudo o que posso dizer é que tenho apenas 20 anos e estou começando no circuito.
– Já aconteceu antes. Seles, Graf, Sabatini — todos elas jogaram partidas melhor de cinco sets.
– Eu não sabia. Tenho apenas 20 anos, acabei de chegar ao circuito, então acho que não tenho experiência ou conhecimento suficiente para responder adequadamente.
– Você está vivendo um sonho, mas provavelmente sonha com algo ainda maior. Qual é o seu sonho no tênis?
– Sou muito ambiciosa. Acho que todo mundo tem grandes sonhos no tênis. Ser o número um do mundo e ganhar Grand Slams é o meu sonho, mas, no geral, o fato de ser uma tenista profissional e chegar a esse nível é algo de que já tenho muito orgulho.
– Se você tivesse que escolher um dos quatro Grand Slams, qual seria seu favorito para ganhar?
– Eu diria Wimbledon, porque desde muito nova era o que eu realmente queria, mas o US Open vem logo depois.