Procurar
Suscríbete
Suscríbete
Procurar

O fascinante momento do nascimento de uma estrela: os dias de alegria do Rio e de João Fonseca

Joao Fonseca Río
Joao Fonseca con el trofeo de campeón del Argentina Open 2025 / LUCAS MANGI
Share on:
Facebook
Twitter
LinkedIn

RIO DE JANEIRO – As crianças se aglomeram no vidro, arregalam os olhos e perguntam com empolgação e entusiasmo: “Como está o Fonseca, como está o jogo?”.

É domingo, 16 de fevereiro de 2025, no Rio de Janeiro. Essas crianças, dezenas e dezenas delas, estão no Jockey Club da cidade brasileira, local do Rio Open, um torneio ATP 500 que é o maior da América do Sul. A quase 2.000 quilômetros de distância, João Fonseca disputa a final do Aberto da Argentina, em Buenos Aires, uma partida eletrizante e acirrada, na qual acaba derrotando o argentino Francisco Cerúndolo.

É o primeiro título do jovem Fonseca, de 18 anos, no circuito da ATP e o início de uma nova era no tênis brasileiro. Aquelas crianças que gritam através do vidro para os jornalistas, que podem acompanhar a final pela televisão, estão desesperadas para saber como Fonseca está se saindo. Porque elas amam o tênis e porque todas sonham em ser um Fonseca.

No dia seguinte, segunda-feira, 17 de fevereiro de 2025, quando Fonseca põe os pés no Jockey Club, tudo muda. Centenas de pessoas se aglomeram em frente às quadras de treino, levantam seus celulares e tentam filmar, registrar pelo menos um momento fugaz de um dia em que sentem que algo grande está acontecendo.

Centenas de espectadores se reuniram para assistir ao primeiro treino de João Fonseca no Rio Open 2025 / SEBASTIÁN FEST

Em São Paulo, no caminho para o jogo de seu time, centenas de torcedores do Palmeiras se aglomeraram em torno da televisão de um bar para acompanhar a final em Buenos Aires.

O Brasil, que já teve grandes jogadores como Maria Esther Bueno e Gustavo Kuerten, está vendo seu tênis renascer. Na mesma semana em que Fonseca apareceu na 68ª posição no ranking da ATP, outros dois jogadores – Thiago Seyboth Wild e Thiago Monteiro – estavam entre os 100 melhores, algo que não acontecia há sete anos.

O Estádio Gustavo Kuerten na noite da estreia de João Fonseca no Rio 2025 / SEBASTIÁN FEST

O momento lembra, embora com diferenças óbvias, a aparição deslumbrante de Kuerten em 1997, quando ele venceu sete partidas do nada para conquistar Roland Garros, torneio que ele venceria mais duas vezes, em 2000 e 2001. Naquela época, há 28 anos, uma batucada improvisada desfilou pelas instalações de Roland Garros, dando ao torneio parisiense uma atmosfera muito diferente da habitual.

Fonseca não venceu Roland Garros, é claro, apenas um ATP 250, muito embora tenha sido em uma das cidades onde mais se vive a paixão e o interessersrsrsr pelo tênis no mundo. No entanto, o efeito que isso gera, a força do fenômeno, lembra o impacto de Kuerten.

E o fato de ele ter perdido em sua estreia na noite de terça-feira por 6-1 e 7-6 (7-4) para o francês Alexandre Müller não muda nada: Fonseca estava cansado após uma semana intensa em Buenos Aires e claramente tenso com a responsabilidade de jogar diante de sua torcida. Uma experiência de aprendizado, que é o que se deve fazer aos 18 anos, quando se tem toda uma carreira pela frente.

+Clay  “Existem 115 milhões de filipinos, e eu sou a primeira tenista da história. É uma loucura” – Entrevista com Alexandra Eala

“Eu sabia que teria que enfrentar o nervosismo e não consegui. Não consegui jogar, não consegui ser eu mesmo na quadra, com minha alegria, minha maneira feliz de jogar, não consegui encontrar esses caminhos, não consegui jogar com a torcida. Acho que essa foi minha frustração hoje. Não consegui ser eu mesmo na quadra.”

João Fonseca e Francisco Cerúndolo após a final do Aberto da Argentina / LUCAS MANGI

“Algo grande está claramente acontecendo”, disse Luiz Carvalho, diretor do torneio Rio Open, um evento encantador emoldurado pelas montanhas tropicais e pela floresta subtropical de uma das cidades mais fascinantes do mundo.

“É um momento único para o tênis brasileiro, um momento muito especial. Estamos vendo em primeira mão o nascimento de um ídolo, possivelmente um ídolo mundial.”

Carvalho está impressionado com a maturidade de Fonseca.

“O que mais nos impressiona é a maneira como ele consegue lidar com toda essa expectativa em torno dele. E ser calmo, feliz e sempre sorridente, com uma energia muito leve. Ontem, conversei com Sasha (Zverev), que fez uma declaração muito interessante em sua coletiva de imprensa, dizendo que muita pressão está sendo colocada sobre Fonseca. Então eu disse a ele: ‘Sasha, você deveria conversar com ele sobre sua experiência, você passou por muitas coisas semelhantes, também começou a ganhar títulos muito jovem, e tenho certeza de que na Alemanha também colocavam muita pressão sobre você’.”

É verdade que Fonseca não precisa de nada para garantir sua vida, porque sua família tem muito dinheiro. Ele poderia, assim, ser preguiçoso, levar a vida sem se preocupar com nada. Mas, pelo contrário, ele é um esportista de coração, alguém que aceita e busca sacrifícios, alguém apaixonado pelo que faz e que sonha em ser campeão. Isso não é normal, nem no tênis nem na vida.

“Ele é milionário, sua família tem muito dinheiro, mas ele é ambicioso, disciplinado e muito educado”, disse à CLAY um membro do Jockey Club que conhece a família e acompanha o progresso da nova estrela do esporte brasileiro.

Christiano Fonseca Filho, conhecido como “Crico”, é pai de João e fundou a “Inversionista Professional” (IP), a primeira gestora independente de investimentos do Brasil, em 1988.

De acordo com dados da Anbima, a associação brasileira de gestores, a IP administra atualmente 2,5 bilhões de reais (cerca de 440 milhões de dólares) em fundos de clientes. Christiano Fonseca paga pelo treinamento e equipamentos que apoiam o tenista, que em 2024 decidiu se dedicar profissionalmente ao tênis em vez de estudar e tentar jogar em uma universidade nos Estados Unidos, como destacou recentemente o jornal esportivo “Lance”.

+Clay  Fonseca, Jarry e o “barulhento” confronto sul-americano que se aproxima: “Adoro esse tipo de jogo”

Roberta Fonseca, mãe de João, passou para o filho os genes esportivos, acrescenta o jornal. Roberta jogou no time júnior de vôlei do Flamengo no início dos anos 80 e chegou a jogar com a ex-estrela da seleção brasileira Dulce Thompson e Karin (medalha de bronze nas Olimpíadas de Sydney em 2000). Hoje, Roberta continua jogando vôlei de alto nível em um time de veteranas.

João Fonseca, em sua partida de estreia e despedida no Rio Open 2025 / SEBASTIÁN FESTEssa combinação de sabedoria financeira e experiência esportiva talvez explique por que Fonseca é muito mais maduro do que Roger Federer na mesma idade, e até mesmo do que Novak Djokovic e Rafael Nadal. Ele joga um tênis agressivo, com um forehand devastador e ambição constante, mas raciocina com cabeça fria.

“Outro dia eu disse às crianças que me pediram autógrafos: ‘Mas vocês treinam comigo de manhã!’”, riu o carioca esta semana, um pouco chocado com o número de mensagens e pessoas que lhe escreveram depois que ele levantou o troféu em Buenos Aires, em uma semana em que derrotou quatro argentinos, um feito e tanto entre dois países que têm uma enorme rivalidade esportiva.

“É uma honra. Jogadores que são ídolos nacionais e mundiais. Neymar, Vinícius Júnior, Ronaldo… Eles são ídolos para mim, pessoas que eu considerava intocáveis. Eles me parabenizam e sabem quem eu sou. É sensacional. Acredito que algumas crianças falem que sou um ídolo para elas e eu digo que há dois anos eu via outras pessoas como ídolos, era mais um fã. Muitas coisas mudaram, como eu disse, e estou muito feliz com tudo o que está acontecendo…”

A sala de imprensa no Rio, lotada durante a entrevista com João Fonseca / SEBASTIÁN FEST

A partir da quadra central, Gustavo Kuerten é possível ver à noite a figura iluminada do Cristo Redentor, símbolo do Rio e do Brasil, a nona maior economia do mundo. A visão é impressionante, e o futuro do torneio também é promissor.

“Nossos telefones não param de tocar, as pessoas querem vir ver o João jogar, pessoas que provavelmente não se interessavam pelo esporte antes e agora se interessam”, diz Carvalho, que também está impressionado com o entusiasmo dos fãs mais jovens.

“É um dos pontos que estamos analisando. Ainda não temos os dados, mas essa nova geração, e estou falando do João, mas também do (Jannik) Sinner e do (Carlos) Alcaraz, atraiu mais jovens para o esporte. Aqui no clube isso é perceptível, porque você vê muitas crianças. Fazemos esse torneio há onze anos e nunca vi tantas crianças atrás dos jogadores, nem mesmo quando o Nadal jogava.”

[ CLAY se lee de forma gratuita. Pero si puedes, por favor haznos un aporte aquí para poder seguir contándote las grandes #HistoriasDeTenis por el mundo. Es muy fácil y rápido. ¡Gracias! ]​

Etiquetas:

Las mejores historias en tu inbox

© 2024 Copyrights by Clay Tennis. All Rights Reserved.