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“O tênis é um esporte global e às vezes isso é esquecido” – entrevista com Vijay Amritraj

Vijay Amritraj / ROLEX
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Para uma lenda do tênis indiano como Vijay Amritraj, a visão eurocentrista dentro de um esporte que ele define como o mais popular do mundo depois do futebol é preocupante.

“Precisamos de torneios na Ásia, África, América do Sul; o tênis não é um esporte só da Europa”, disse Amritraj. O vencedor de 15 títulos profissionais de simples durante os anos 70 e 80, e ex-presidente do Conselho de Jogadores da ATP, falou com CLAY em uma entrevista também publicada por RG Media.

“É um esporte mundial e às vezes as pessoas se esquecem disso”, acrescentou o indiano, que foi incluído no Hall da Fama do Tênis em 2024 por sua contribuição ao desenvolvimento do tênis na Índia e no restante da Ásia.

Em um momento em que a ATP busca eliminar vários torneios da categoria 250, Amritraj pede o aumento de eventos nas regiões mais ignoradas.

O ex-tenista também revelou detalhes sobre a visita de Björn Borg à Índia e lembrou a época em que competia contra o sueco, Guillermo Vilas, Jimmy Connors e John McEnroe: “Os anos setenta e oitenta foram a melhor era do tênis”.

Vijay Amritraj
Vijay Amritraj

Entrevista com Vijay Amritraj

— Ter compartilhado o vestiário com tantas lendas do esporte nos anos 70 deve ter sido incrível. Você jogou contra Jimmy Connors, John McEnroe, Björn Borg, Guillermo Vilas, entre tantos outros. Me conta sobre essa era dourada.

— Essa foi a melhor parte do tênis. Sempre me sinto muito agradecido por ter jogado na época dos quatro e de tantos outros: (Raúl) Ramírez, (Dick) Stockton, Brian Gottfried e Roscoe Tanner. Muitos dos grandes campeões da minha geração. Tivemos uma grande rivalidade, grandes partidas, uma grande camaradagem. Consegui grandes vitórias. Tudo ao mesmo tempo.

— Como você se sente em ter vencido partidas contra os melhores da epoca?

— Fantástico! Venci todos eles, me diverti muito. A única coisa que não era tão boa é que o prêmio em dinheiro não era tão alto como hoje (risos), mas sabe, isso não mudava nosso espírito competitivo.

— Como é sua relação com eles hoje?

— Borg e sua esposa vieram comigo à Índia em 2023. Eles mudaram as passagens de volta três vezes, não queriam ir embora! Tivemos dois eventos incríveis, um em Chennai e outro em Bangalore, onde falamos diante de centenas de pessoas. Nossas partidas em Wimbledon e no US Open foram projetadas em um telão enorme. Ele estava muito feliz.

— E Connors?

— Connors mora a uma hora e meia da minha casa, então às vezes jogamos golfe juntos.

— Quem é melhor no golfe, Connors ou o você?

— Jimmy! Ele joga seis dias por semana.

— Seis dias por semana, é muito! Quantas vezes você joga?

— Às vezes fico até quatro meses sem jogar. Aí quando volto para casa eu jogo.

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— E McEnroe e os demais?

— Vejo McEnroe com bastante frequência em eventos. Infelizmente, Vilas não está muito bem.

— Você sabe algo a respeito dele?

— Sim, mas ele não está bem. A família é quem cuida dele.

— Acredita que Vilas merece ser reconhecido como número um do mundo?

— Sim! Com certeza absoluta! Ele era a rocha mais dura que alguém poderia encontrar, o jogador mais bem preparado fisicamente do circuito… Vilas passava sete horas por dia batendo bola. Ele venceu 50 partidas consecutivas no saibro (nota do editor: foram 53 em 1977). O “Touro selvagem dos pampas”: 100%, ele deveria ser reconhecido como número um do mundo.

— Qual é a melhor era do tênis?

— Os anos 70 e 80. Sem nenhuma dúvida.

— Era linda, sem dúvida. Mas… melhor que a do Big Three?

— Tivemos o privilégio de ver Federer, Djokovic e Nadal por 20 anos, algo que nunca pensei que veria na minha vida. O que eles conquistaram juntos é incrível. Mas eu nunca trocaria ter jogado nos anos 70 e 80. Mesmo que hoje o dinheiro seja muito maior.

— O tênis mudou muito, sobretudo pela velocidade da bola e pela potência. Mas imaginando igualdade de condições, se colocássemos Connors, Borg e McEnroe em um time contra Federer, Nadal e Djokovic… Quem venceria?

— Nunca comparamos gerações. Qualquer campeão do passado teria sido campeão hoje. Mas, apenas por diversão, seria interessante ver McEnroe jogar contra Nadal usando a raquete de Nadal, e Nadal usando a raquete de McEnroe.

— Quem venceria?

— Se trocarem as raquetes, McEnroe venceria!

— Interessante. E Federer trocando raquetes com Connors?

— Com Borg. Federer vs Borg seria um duelo melhor.

— Com Borg.

— Sim. Seria mais equilibrado. Mas provavelmente eu apostaria em Borg.

Federer Nadal Mcenroe borg Laver
Amritraj afirma que a melhor versão dos tenistas de sua época venceria os membros do Big 3… se eles trocassem de raquetes // ROGER FEDERER

— Djokovic contra Connors?

— Oh, Connors. As lendas dos anos 70 e 80 venceriam por 3–0. Trocando raquetes!

— O que pensa do fato de Djokovic continuar competindo nas rodadas finais de grandes torneios aos 38 anos? E quão influente acha que ele é fora da quadra?

— Ele é uma personalidade. De diversas maneiras. É um grande sujeito. O que ele faz pela Sérvia é espetacular. Acredito que ele é uma joia da Sérvia. O que ele conquistou no tênis masculino é absolutamente incrível. Seu desejo de vencer é fenomenal. Caminha lado a lado com sua ética de trabalho. Mesmo no final da carreira, ele ainda tem essa faísca.

— Vamos falar sobre tênis no seu país. Com todas as mudanças no calendário da ATP, a Índia foi muito afetada e agora não tem eventos maiores que Challengers. O senhor acha que a Índia merece um torneio ATP?

— Não só a Índia. Acredito que todas as capitais da Ásia precisam de um torneio ATP. Nos anos 70 e 80 nós os tínhamos. Havia torneios na Índia, Hong Kong, Singapura, Manila, Bangkok, Teerã, Seul, Osaka, Tóquio. Hoje não temos nada. Quando fui presidente da ATP, levamos torneios para Dubai e Doha. Fui presidente do Conselho da ATP por quatro mandatos. Hoje não há nada na Ásia. Só existe uma licença em mãos asiáticas: Tóquio. Seul não pertence ao licenciatário, é da IMG. Hong Kong, para onde o evento foi movido, também está nas mãos da IMG. Precisamos de torneios na Ásia! Precisamos de torneios 250; não precisamos de 500 por enquanto. Precisamos de 250 para manter o tênis como um esporte mundial. É um esporte global e às vezes as pessoas se esquecem disso. Depois do futebol, somos o esporte mais popular do mundo em número de praticantes. Precisamos de torneios na África. Precisamos de mais torneios na América do Sul. Este não é um esporte exclusivamente europeu!

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— Você acredita que as lideranças do tênis estão cometendo um grande erro ao priorizar quase sempre Europa e Estados Unidos acima de outras regiões?

— Com certeza. Com certeza. O que estão tentando fazer? Qual é o plano deles? Por exemplo, elevaram a categoria de Dallas e Munique, e isso é bom. Se alguém quer investir mais dinheiro e ter um torneio maior, perfeito. Mas não às custas de outros.

— O que diria à ATP sobre esse tema?

— Que olhe primeiro para o restante do mundo. E depois faça upgrades nos torneios. A ATP quer reduzir a quantidade de torneios 250. Acho que isso está errado. Todos os países da América do Sul precisam de um torneio. Bogotá tinha um evento antes. Lima deveria ter um torneio. Caracas deveria ter um torneio. Eu joguei em Caracas. Onde estão todos esses eventos? Há espaço para todos!

— De verdade?

— Claro! É uma comunidade. Uma comunidade mundial. Sabe quantas pessoas vêm da Índia para ver Wimbledon? A quantidade de asiáticos que assistem a Roland Garros? A quantidade de sul-americanos que viajam a Nova York para ver o US Open?

— Um dado muito divertido sobre você é sobre a sua participação em alguns filmes icônicos…

— Atuei em Octopussy, o filme de Bond. E em Star Trek IV: The Voyage Home. Esses foram os mais icônicos.

Vijay Amritraj
Vijay Amritraj no Star Trek

Qual é o seu filme de tênis favorito?

— Não fizeram nenhum realmente bom.

— Viu Challengers?

— Fui à pré-estreia. O filme é bom, normal. Mas Zendaya estava muito bem. Sua atuação foi excepcional.

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