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“Del Potro sempre se preocupou com as críticas; sua contribuição foi incrivelmente importante” – entrevista com Daniel Orsanic

Juan Martín Del Potro y Daniel Orsanic copa davis
Juan Martín Del Potro and Daniel Orsanic, 2016 Davis Cup champions.
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Copa Davis 2016. Semifinais entre Grã-Bretanha e Argentina. Juan Martín del Potro vinha de uma vitória que talvez tenha sido a mais importante da história de seu país, após derrotar Andy Murray na partida de abertura. No entanto, o argentino não conseguia parar de pensar nas críticas que lhe eram dirigidas.

“No domingo, quando ele não jogou, ele me disse: ‘Tem muita gente me criticando’. Eu respondi: ‘Multiplique por vinte o número de pessoas que te agradecem e te admiram pelo que você fez, porque na sexta-feira você ganhou um jogo histórico’”, contou Daniel Orsanic à CLAY em entrevista também publicada pela RG Media.

“Juan Martín sempre se preocupou com as críticas”, disse o capitão que levou a Argentina ao seu primeiro e único título da Copa Davis, com Del Potro como um dos principais jogadores.

Orsanic lembra daquela partida na Escócia como sendo muito especial: “Eu não conseguia acreditar no que estava vendo. O que Murray e Del Potro fizeram foi uma partida de xadrez — uma precisão tática incrível. Poucas vezes vi um jogo de tênis tão bom. Já sabíamos que Juan Martín não poderia jogar no domingo: ele estava fisicamente esgotado. Além do fato de que depois levantamos a taça contra a Croácia, derrotando os atuais campeões em sua casa, que contava com os número 1 do mundo em simples e duplas (Jamie Murray), foi impressionante.”

O técnico, agora comentarista da ESPN, revelou a promessa que fez ao ex-número 3 do mundo e relembrou os bastidores da visita inesperada de Diego Maradona durante a final disputada em Zagreb: “A presença de Diego transforma instantaneamente todo o ambiente — inunda você de energia e adrenalina. Mas a equipe precisava de um ambiente diferente.”

Entrevista com Daniel Orsanic

– A campanha da Copa Davis de 2016 foi histórica. Foi o primeiro título da Argentina depois de ter perdido várias finais. Qual foi a parte mais difícil?

– É claro que ganhar as partidas foi a parte mais difícil. Os jogadores em quadra fizeram um trabalho excepcional: a maioria teve um desempenho de alto nível e ganhou partidas que, em teoria, não era para terem ganho. Isso se deu graças ao clima criado dentro da equipe. Mas talvez a parte mais difícil tenha sido desmistificar, externamente, o que um resultado significa. Fizemos um belo trabalho simplificando as situações, simplificando a mensagem para os jogadores e também para o público. A sociedade é muito acostumada a resultados: se você vence, é bom; se você perde, é ruim. Eu não concordo. Sempre defendi a essência, o processo, o que se pode controlar. Os resultados são fundamentais nas atividades de alto rendimento, mas não é algo que se possa controlar. Gosto de trabalhar no que posso controlar: que os jogadores cheguem bem, cheios de entusiasmo, e que a mensagem seja simples e objetiva. Essa era a parte mais difícil — e também a mais agradável.

– Existe alguma coisa que, dez anos depois, você olhe para trás e pense: “Graças a Deus que aquilo aconteceu”?

– Se tivéssemos perdido na primeira rodada em 2015 contra o Brasil, na minha primeira partida como capitão, eu pensaria exatamente como penso hoje, depois de ganhar a Copa Davis. Mas, obviamente, você não estaria me entrevistando (risos). Eu não teria tido a chance, o privilégio, de transmitir minhas ideias. Eu poderia dizer “graças a Deus vencemos aquele jogo”, “ainda bem que (Federico) Delbonis fechou aquela partida” ou “que (Juan Martín) Del Potro se integrou à equipe”. Houve muitos fatores. (Guido) Pella, (Leonardo) Mayer — todos eles ganharam jogos incríveis. Mas, quanto ao meu modo de pensar, nada mudou: nem antes de me tornar capitão, nem depois de vencer, nem depois de deixar o cargo.

– Como você convenceu Del Potro a se juntar ao time?

– Eu não o convenci. Em nosso primeiro encontro, ele me disse que não jogava pela Argentina há muito tempo e queria voltar. Naquele dia, prometi que o protegeria: quer ele jogasse ou não, ganhasse ou perdesse, jogasse bem ou mal.

– Protegê-lo em que sentido?

– Protegê-lo externamente, acima de tudo. Em outras situações, alguns capitães transferiram a responsabilidade dizendo: “Eu quero que ele jogue, mas ele não quer”. Isso expôs muito Juan Martín perante a imprensa. Eu nunca faria isso — nem com ele nem com nenhum jogador. Acredito que o papel fundamental do capitão é proteger seus jogadores. Foi o que eu disse a ele desde o primeiro dia. Claro que dizer é uma coisa e demonstrar é outra. Algumas vezes eles acreditam em você, outras não. Tive sorte de ter o tempo necessário para demonstrá-lo, não só com Del Potro, mas também com outros que nem sempre concordavam com certas decisões.

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– Isso fez com que ele tivesse a sensação de ser tratado de modo diferente?

– Ele queria defender a Argentina. Sempre que o fez, teve um desempenho incrível. Seus melhores resultados, com exceção do US Open, foram defendendo o país. Ele vivia aquilo intensamente e dava o seu melhor. Nunca precisei “convocar” Del Potro. Quando ele estava pronto para jogar, ele falava. Ele era incontestável em qualquer equipe. Nunca foi difícil — nunca tive que insistir, nunca tive que pedir. Quando ele estava pronto, ele me avisava.

– Você teve que ajudá-lo mentalmente depois do que aconteceu na final em Mar del Plata em 2008, quando a Argentina perdeu para a Espanha e o clima dentro da equipe não era bom?

– Sim, foi uma experiência muito traumática para ele. Ele era muito jovem e sua família o defendeu, como qualquer pai faria ao ver seu filho exposto tão cedo à imprensa e aos companheiros de time. A promessa que fiz a ele no primeiro dia incluía tudo isso. Ele podia escolher acreditar em mim ou não. Os fatos me ajudaram a ganhar sua confiança, e foi isso que aconteceu.

– Você sentiu a pressão de liderar a equipe da Copa Davis depois de tantos fracassos históricos?

– Eu não sentia a obrigação de vencer. Sentia a obrigação de promover a harmonia dentro do grupo para que ele se tornasse um time. Isso era pressão. Mas, como eu tinha muito o que fazer, acabava esquecendo disso. Não houve uma noite sequer em que eu tivesse ido dormir preocupado. Todas as noites, eu ia para a cama exausto de todo o trabalho que tínhamos realizado.

– O que você pensou quando ficou sabendo que Diego Maradona iria a Zagreb para torcer por vocês na final?

– Pedi à Vivi, nossa coordenadora, para dizer ao representante dele que estávamos em outro hotel. Ele chegaria na quinta-feira e nós começaríamos as partidas na sexta-feira. Vinte minutos depois, Vivi voltou e disse: “Ele já fez a reserva aqui”. Eu disse a ela: “Diga a ele que gostaríamos de vê-lo na sexta-feira, após as partidas”. Esse foi o meu pedido.

– Por quê?

– Porque eu estava com Maradona na final de 2006 na Rússia, quando a Argentina jogou fora de casa. Eu era técnico de um dos jogadores e por acaso estava na reunião pré-jogo no vestiário — foi incrível. Estávamos pulando, gritando. Todos estavam emocionados, com os olhos cheios de lágrimas pela adrenalina. Mas cada grupo é diferente. Senti que a equipe de 2016 precisava de outra coisa — não falar de resultados, manter a discrição. A presença de Diego automaticamente aumenta a repercussão — enche você de energia e adrenalina. Ele era o torcedor número 1 da Argentina em todos os esportes, incluindo o tênis.

– E Maradona respeitou seu pedido…

– Sim. Na sexta-feira, após as partidas, ele foi para a sala de massagem e tomou mate (uma bebida tradicional do Cone Sul) com os jogadores. Ele foi muito respeitoso. Eu não o vi naquele dia, mas no sábado à noite muitos de nós fomos ao quarto dele. Passamos 45 minutos fantásticos lá. Falamos de tênis por cinco minutos — e depois assistimos a um programa completo do Napoli enquanto ele contava suas histórias. “Yaca” Mayer deu uma raquete de presente para ele, ele estava usando um pijama de plush… dava vontade de abraçá-lo e não soltar mais. Ele foi um grande suporte. Mas o que mais se notou foi o quão respeitoso ele foi: ele não entrou no vestiário quando não deveria, esperou o momento certo. Sempre gostei disso.

– Você seria capitão novamente?

– Não é algo que eu tenha em mente. Só penso nisso quando me perguntam. Não tenho esse desejo. Sou feliz fazendo o que preciso fazer em cada momento. Nunca sonhei em ser capitão ou técnico. Não decidi tentar ser jogador até terminar o ensino médio. Quando deixei a Copa Davis e a Associação de Tênis da Argentina, falei para minha esposa que não me importaria em colocar um terno e ir trabalhar em uma empresa. Alguns meses depois, me convidaram para comentar a final de Queen’s e, desde 2018, sou comentarista de tênis, vestindo paletó e camisa.

– Você acha que os problemas de ego e interesses pessoais foram os principais motivos por trás de tantos fracassos da Argentina na Copa Davis antes de 2016?

– Não acho que esses tenham sido os motivos para que não tivéssemos vencido antes. Você precisa estar dentro para saber como lidar com cada situação. Treinei alguns jogadores da equipe e presenciei muitas coisas. Existiu uma era brilhante no tênis argentino no aspecto esportivo, mas isso não se refletiu no aspecto humano. Acredito que os dois aspectos devem caminhar juntos. Um cara simpático que não é competitivo não é útil, bem como um fenômeno que é desrespeitoso também não. Um jogador deve evoluir em todos os aspectos — não apenas bater mais forte ou vencer mais, mas também entender o que a imprensa, o público e o adversário querem. Para mim, isso é tão importante quanto vencer.

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– Havia um certo déficit nesse aspecto.

– Com certeza. Por isso nos concentramos em atender bem a imprensa, atender todo mundo, ser correto. Havia muitos detalhes que se alinhavam a uma ideia e deixavam a delegação numa boa condição. Demos à imprensa o lugar que ela merecia e nos conectamos com o público — não só vencendo partidas, mas sendo uma seleção educada e respeitosa.

– Você se lembra de algum exemplo?

– Vou citar dois: na Bélgica, em 2015, depois de perdermos a semifinal, eu tinha lágrimas nos olhos. Porém, os organizadores vieram nos parabenizar: disseram que não tinham recebido nenhuma delegação que tivesse sido tão respeitosa e gentil em vinte anos. Por um lado, eu estava frustrado do ponto de vista esportivo, mas, por outro, estava orgulhoso. Na Grã-Bretanha, foi a mesma coisa: nosso tradutor disse que os organizadores ficaram agradavelmente surpresos — a Austrália havia jogado lá, os Estados Unidos haviam jogado lá, e nós éramos a delegação mais simpática. Aquilo me deu uma satisfação enorme. É claro que eu queria ir lá e ganhar todos os jogos, mas ter deixado a Argentina com uma boa imagem foi gratificante.

– Quero voltar àquela semifinal na Escócia em 2016, contra Andy Murray no auge de sua carreira. Aquela partida entre Murray e Del Potro deve ser uma das mais importantes da história do tênis argentino. Quais são suas lembranças?

– Eu não conseguia acreditar no que via. Murray x Del Potro foi uma partida de xadrez — uma precisão tática impressionante. Poucas vezes vi um jogo tão bom. Pudemos jogar com os rankings: queríamos que Del Potro enfrentasse Murray no primeiro dia; caso contrário, não haveria a menor chance em termos de energia. Foi histórico. Então Guido Pella venceu (Kyle) Edmund e passamos a estar 2 a 0. Mas sabíamos que Juan Martín não conseguiria jogar no domingo: ele estava fisicamente esgotado. Então apostamos nossas fichas: colocamos ele para jogar nas duplas com Mayer para aproveitar o momento de estar ganhando por 2 a 0. Nos dois sets, os dois times dividiram os pontos e quase conseguiram uma quebra, mas não foi o suficiente. Então Leo foi muito sólido para fechar a disputa contra Daniel Evans. Mesmo que depois tenhamos vencido a Croácia, ganhar dos atuais campeões, com o número 1 do mundo em simples e duplas, na casa deles, foi espetacular.

– E o que isso significou para Del Potro?

– No domingo, quando ele não jogou, ele me disse: “Tem muita gente me criticando”. E eu respondi: “Multiplique por vinte o número de pessoas que te agradeceram e que admiram o que você fez, porque o que você conseguiu na sexta-feira contra Andy foi histórico”. Ele sempre foi muito consciente das críticas. Sua contribuição foi extremamente valiosa.

– Para terminar, como você avalia os jogadores argentinos de maior sucesso dos últimos anos? Começando por Francisco Cerúndolo.

– Cerúndolo está em um ótimo momento; ele teve sua melhor temporada, embora eu ache que foi difícil para ele gerenciar as expectativas. Ele não conseguiu sustentar seu melhor nível nos Grand Slams, mas se ficar mais consistente, chegará perto do top 10. Sebastián Báez teve um ano de altos e baixos, embora tenha aproveitado ao máximo a gira sul-americana, vencido no Rio e chegado à final em Santiago. Isso lhe deu uma boa margem de segurança, porque são muitos pontos. É claro que ele teve sequências ruins, mas esses são jogadores que sempre dão tudo de si, e quanto mais confiança ganham, melhores são os resultados. Vejo Báez um pouco estagnado. E (Tomás) Etcheverry não teve um bom ano — eu o vejo mais irregular do que o habitual. Espero que ele consiga reverter essa situação. Mas é preciso estar dentro da equipe para realmente entender o que está acontecendo.

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