Procurar
Suscríbete
Suscríbete
Procurar

Quando o tênis não é o mais importante: Arábia Saudita e seu Masters 1000

ATP Arabia Saudi
The top leadership of the ATP and Saudi Arabia’s Public Investment Fund (PIF) have signed the agreement for the new Saudi Masters 1000 / ATP
Share on:
Facebook
Twitter
LinkedIn

Se, em vez de colocar todos os seus esforços no desenvolvimento de mísseis, Kim Jong-un tivesse conseguido transformar a Coreia do Norte em uma potência econômica maior que sua vizinha do sul, a ATP provavelmente estaria anunciando, em breve e com orgulho, o Masters 1000 de Pyongyang.

Tudo é possível hoje na entidade que comanda o tênis masculino, e por isso tivemos a confirmação de que a Arábia Saudita terá, enfim, o Masters 1000 pelo qual tanto lutou. Existem pontos a favor para que a realização de um torneio dessa magnitude lá e muitos aspectos contra, especialmente se nada mais mudar no resto do calendário e na organização do circuito.

Não é uma questão política. A Arábia Saudita é uma ditadura, sim, mas a China também é, e ninguém pensa que o Catar, os Emirados Árabes e o Cazaquistão, três países que fazem parte do circuito da ATP, sejam democracias.

Se o Comitê Olímpico Internacional (COI) e a FIFA nunca encontraram a fórmula para resolver a contradição entre o esporte integrador e aberto e as diferentes ditaduras que sediaram e sediarão os Jogos Olímpicos e as Copas do Mundo de futebol, não podemos esperar que uma organização relativamente pequena como a ATP resolva isso.

Não, não se trata de política. É sobre esporte, é sobre tênis. E temos a impressão de que não é o tênis que mais importa.

Arabia saudita tenis
Rune, Medvedev, Djokovic, Nadal, Alcaraz e Sinner em uma promoção para a exibição Six Kings Slam de 2024.

Quando Andrea Gaudenzi, presidente da ATP, diz que “a Arábia Saudita demonstrou um compromisso genuíno com o tênis, não apenas em nível profissional, mas também no crescimento do esporte em geral a todos os níveis”, é claro que ele não está mentindo: o governo de Riade, através do Public Investment Fund (PIF), um dos fundos soberanos mais poderosos do mundo, sustenta hoje, literalmente, o tênis masculino. Veja o “PIF ATP Ranking”. Ou pense naquela exibição milionária chamada Six Kings Slam.

+Clay  Perdoem Ostapenko

E quando dá à Arábia Saudita um lugar no calendário a partir de 2028, a princípio em fevereiro, entre a Austrália e Indian Wells/Miami e como parte das semanas que também incluem os ATP de Dubai e Doha, tudo parece pura lógica… até olhar para o sul do planeta.

A frase de Gaudenzi faz muito sentido se substituirmos “Arábia Saudita” por “Argentina”, “Brasil” ou “Chile”. Leiam e opinem: “A Argentina demonstrou um compromisso genuíno com o tênis, não apenas no nível profissional, mas também no crescimento do esporte em geral em todos os níveis”.

Existem diferenças entre os três países, não se pode comparar o desenvolvimento e a profunda inserção do tênis na Argentina com o que acontece no Brasil ou no Chile. Mas nesses dois países há paixão, paixão crescente e história. E no Brasil também há muito dinheiro.

Basta lembrar o número de tenistas excepcionais, números um, inúmeros top ten, títulos nos quatro grandes torneios, na Copa Davis, medalhas olímpicas e uma longa lista de outras conquistas que a América do Sul e a América Latina em geral trouxeram ao tênis.

É necessário fazer essa mesma lista com foco no tênis saudita e na região em geral?

E não se trata de um problema com o tênis saudita, que tem todo o direito de se desenvolver e coloca entusiasmo verdadeiro (em forma de muito dinheiro) em um esporte no qual um dia alcançará sucesso, sem duvidas. Quando perguntamos ao entorno de Rafael Nadal — embaixador do tênis saudita — sobre o que está acontecendo por lá, os elogios a Arij Mutabagani, a primeira mulher a presidir a federação de tênis, são sinceros e enormes.

+Clay  “Spanish hands” Alcaraz: CLAY acompanhou o número um do mundo em 18 buracos de golfe
Nadal y Arabia Saudí
Captura de tela de um vídeo promocional divulgado pelo tenista Rafa Nadal para anunciar sua participação nos programas de incentivo ao tênis da Federação Saudita de Tênis.

Há, claramente, algo bom e interessante acontecendo nesse país de 35 milhões de habitantes, o chamado reino do deserto.

Mas há um fato inegável: todas as regiões, continentes e subcontinentes do mundo têm um Grand Slam ou um Masters 1000. Exceto a África e a América Latina.

Precisa explicar por quê?

Talvez sim. Mariano Zabaleta, vice-presidente da Associação Argentina de Tênis (AAT), relatou recentemente a grande surpresa de Roland Garros quando contou que o órgão regulador do tênis argentino trabalha com um orçamento de 2,5 milhões de dólares. Mensal?

Não, anual, respondeu Zabaleta. E os franceses não acreditaram.

O tênis e o esporte hoje são movidos pelo dinheiro, e ninguém quer um modelo que, por ser tão eficiente, é capaz de transformar um país com apenas 200 mil dólares mensais em uma potência do tênis. Seria a ruína para muitos no tênis.

Todo mês de fevereiro, precisamente o mês em que, a partir de 2028, provavelmente será disputado o Masters 1000 saudita, o Buenos Aires Lawn Tennis Club, o Jockey Club da Gávea e o estádio de San Carlos de Apoquindo ficam lotados de espectadores loucos por tênis. Eles amam o esporte, têm um “compromisso genuíno com o tênis”, nas palavras da ATP.

Talvez a ATP compreenda isso um dia… Talvez no dia em que Gaudenzi pisar pela primeira vez na América do Sul após seis anos como responsável máximo pelo tênis masculino.

[ CLAY se lee de forma gratuita. Pero si puedes, por favor haznos un aporte aquí para poder seguir contándote las grandes #HistoriasDeTenis por el mundo. Es muy fácil y rápido. ¡Gracias! ]​

Etiquetas:

Leave A Comment

Las mejores historias en tu inbox

© 2024 Copyrights by Clay Tennis. All Rights Reserved.